Já passava das onze da noite quando entrei naquela pizzaria no centro da cidade. Como havia chegado cedo, a atendente pediu que eu aguardasse um pouco, pois minha pizza estava quase pronta. Enquanto esperava observei em uma mesa quatro jovens conversando. Duas moças e dois rapazes. Pelo que tudo indicava eram dois casais. O diálogo que ouvi foi mais ou menos assim:
– O Fer queria fazer uma tatuagem também, mas disse que veio um pastor na igreja dele e falou que na Bíblia tá escrito que não pode fazer tatuagem porque é marcar o corpo, Deus não gosta e blá, blá, blá… E agora ele pensa que é errado ter tatuagem! – disse um dos rapazes provavelmente se referindo a algum conhecido deles.
– Ah meu Deus! Pensa como? E crente lá tem cérebro?!
O outro rapaz que até então permanecia quieto, disparou em um tom de voz que chamou a atenção:
E então eu parei de acompanhar a conversa da mesa alheia. Fiquei com aquele “Pensa como? E crente lá tem cérebro?” martelando na mente. E comecei a pensar (sou crente, mas ainda costumo fazer este “exercício”) em uma enxurrada de coisas.
Pensei nos primórdios da Igreja, ainda em Cristo, com as boas respostas diante dos questionamentos e provocações dos religiosos da época. Pensei em Paulo de Tarso e todos os seus escritos que formaram a base da ética cristã ao longo de mais de dois mil anos de história.
Lembrei-me de John Stott que defendia com unhas e dentes que “crer é também pensar”. Doeu-me o coração ao lembrar dos milhares de professores que estudam e ensinam todas as nuances do evangelho em bancos de faculdades e institutos teológicos por todo o país.
No entanto, sorri de tristeza ao constatar que, infelizmente, em nossos dias existem movimentos voltados para a infantilização da juventude, que realmente ensinam um falso evangelho, baseado em experiências pessoais dos líderes e que colaboram para que o mundo veja os crentes como “tapados”. Sim, quase concordei com o rapaz ao lembrar que existem milhares de pessoas que acreditam em lobos travestidos de ovelhas que insistem em depositar sobre os fieis aquele velho peso de culpa e medo.
Por fim pensei que talvez falte a nós, crentes, exercitar o cérebro. Sair do mundinho igreja, religião e mercado gospel e passar a exercer uma espiritualidade no chão da vida, na expêriencia do toque, do serviço, da promoção da paz, que nada mais do é do que a manifestação visível do Reino de Deus na Terra. Falta-nos conhecimento, primeiro da Bíblia Sagrada, mas também do mundo das ciências, da filosofia, das ciências sociais e assim por diante. Precisamos questionar nossa fé de maneira racional. Foi Francis Schaeffer quem disse que “os cristãos deveriam ser os que menos se sentem ameaçados por novas idéias artísticas, pela experimentação, por correr riscos, de olhar e apreciar o que o outro lado tem a dizer. Se os nossos pés estão solidamente enraizados na verdade, podemos observar o mundo com confiança, prazer e realização”. Isso nada mais é do que mostrar que o crente tem cérebro sim, e contrariar a máxima que alguém disse certa vez, que “assim como a sopa de um restaurante ruim, o cérebro dos cristãos ficaria melhor se não fosse mexido”. É possível ser crente e pensar ao mesmo tempo! Na realidade, Jesus veio para tirar nosso pecado e não nossa inteligência!
Fonte: Minha Vida Cristã
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DAC